terça-feira, 31 de março de 2015

PCO - A burguesia nas ruas

Por Rui Costa Pimenta


A manifestação de ontem, 15, em S. Paulo , filmada ao vivo pela Rede Globo desde as 8 horas da manhã, foi uma típica manifestação da burguesia. As imagens mostram claramente que a composição social da manifestação era esmagadoramente de classe média e burguesa. Nas tomadas da própria Rede Globo não se via uma única pessoa do povo. A manifestação não revelou mesmo que tangencialmente uma verdadeira insatisfação ou revolta popular com quem quer que fosse. Não havia reivindicações econômicas e sociais prementes do povo, até porque não havia povo algum, mas palavras de ordem dirigidas exclusivamente contra o PT, contra Dilma Rousseff e contra a corrupção. Não há nada contra nenhum outro partido ou político. Não há absolutamente nenhuma reivindicação social, nem mesmo em torno do problema da água, extremamente grave em S. Paulo, apenas a questão da corrupção.

A PM, que reduziu os mais de 50 mil manifestantes da manifestação do dia 13 a 12 mil pessoas, aumentou a manifestação da burguesia paulista primeiro para 200 mil, depois 240 mil e meia hora depois para 580, chegando menos de uma hora depois a nada menos que um milhão de pessoas, uma falsificação escandalosa. Não houve na manifestação nem mesmo 100 mil pessoas, como demonstramos com cálculos matemáticos precisos nesta edição.

A farsa da Rede Globo e do governo estadual de S. Paulo (PM) fica desmascarada por si mesma pela evidente composição social da manifestação, composta apenas pela classe média paulista e pela burguesia. A Globo quer ocultar o que as imagens mostram: embora a manifestação seja grande, é esparsa e não concentrada e não fica claro que a maioria das pessoas tenha efetivamente ido a um protesto, ou apenas tenha ido pela enorme convocação feita pela Rede Globo que dá a impressão de ser uma comemoração ou um divertimento de final de semana.

O intuito da falsificação é óbvio, a direita quer criar um fato político que demonstre que o governo está isolado, não tem condições de governar no sentido daquilo que tem sido sua meta fundamental: abreviar o mandato do atual governo.

O sentido ideológico da manifestação também ficou absolutamente claro. Ao lado das palavras de ordem contra a "corrupção" e "fora PT", veem-se os cartazes da extrema-direita pedindo a intervenção militar, atacando a esquerda e o comunismo. Tratou-se de uma manifestação, convocada, dirigida, organizada e com a completa hegemonia ideológica da direita anticomunista e fascistoide que vem se desenvolvendo claramente e, agora, mesmo pesando as falsificações, chegou a realizar uma manifestação de massas. Estamos considerando é claro o enorme patrocínio do capital nacional e estrangeiro, dos monopólios da comunicação etc. que não estão à disposição dos sindicatos e trabalhadores ou da juventude quando se manifestam. São fatos que fazem parte da conta e que expressam a força e a organização social da burguesia.

As manifestações fora de S. Paulo, apesar de ampliadas pela lente de aumento da Rede Globo e outras emissoras, foram pequenas. Segundo as imagens da própria Rede Globo - que é a verdadeira organizadora da manifestação - as manifestações fora de S. Paulo reuniram poucas pessoas. Em Curitiba, cerca de 1.000 pessoas se reuniram na Praça da Liberdade, muito inferior às manifestações dos funcionários públicos que chegaram a lotar um estádio de futebol. Em Goiânia, via-se menos de 500 pessoas. É significativo que a Globo mostrasse muito pouco e nem comentasse as manifestações fora de S. Paulo.

Aqui temos dois fatos contraditórios. De um lado, a manifestação, como tentativa de demonstrar uma grande unanimidade em favor do impeachment de Dilma Rousseff foi, concretamente, um fracasso. De outro lado, isso não impedirá a direita de criar, sobre a base do fato de que conseguiram uma manifestação de massas pela primeira vez, criar toda uma ilusão política que poderá impulsionar o movimento golpista.

Uma coisa é certa, com a ajuda do poder social e econômico da burguesia e explorando a política oportunista da Frente Popular no governo, a direita deu um grande passo adiante que estimulará a organização de todos os movimentos direitistas contra a classe trabalhadora e o povo em geral.

Um alerta para toda a esquerda - mesmo com o gigantesco exagero da Rede Globo, que configura uma farsa tipicamente golpista, a manifestação convocada pela burguesia e a direita é expressiva. É, sem qualquer dúvida, um fenômeno quase inédito para a direita nacional, que revela a enorme polarização política. O crescimento desse movimento direitista é uma ameaça para toda a esquerda e para as organizações de luta do movimento operário e popular. Uma parte da esquerda, principalmente a ligada ao governo, é tímida em combater a direita e vai perdendo terreno. Uma outra (PSTU, Psol e congêneres) atua com disposição para empurrar a classe média para os braços da direita e para colocar a esquerda na defensiva no que diz respeito à luta contra a direita.

A única política é enfrentar a direita. Enfrentá-la em todos os terrenos. Enfrentá-la nas ruas, na política, na propaganda, na imprensa, na luta ideológica e quando se tornar necessário, estar preparado para enfrenta-la pela força.

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