Por Rui Costa Pimenta
A manifestação de ontem, 15, em S. Paulo , filmada ao vivo pela Rede Globo desde as 8 horas da manhã, foi uma típica manifestação da burguesia.
As imagens mostram claramente que a composição social da manifestação
era esmagadoramente de classe média e burguesa. Nas tomadas da própria
Rede Globo não se via uma única pessoa do povo. A manifestação não
revelou mesmo que tangencialmente uma verdadeira insatisfação ou revolta
popular com quem quer que fosse. Não havia reivindicações econômicas e
sociais prementes do povo, até porque não havia povo algum, mas palavras
de ordem dirigidas exclusivamente contra o PT, contra Dilma Rousseff e
contra a corrupção. Não há nada contra nenhum outro partido ou político.
Não há absolutamente nenhuma reivindicação social, nem mesmo em torno
do problema da água, extremamente grave em S. Paulo, apenas a questão da
corrupção.
A PM, que reduziu os mais de 50 mil manifestantes da manifestação do
dia 13 a 12 mil pessoas, aumentou a manifestação da burguesia paulista
primeiro para 200 mil, depois 240 mil e meia hora depois para 580,
chegando menos de uma hora depois a nada menos que um milhão de pessoas,
uma falsificação escandalosa. Não houve na manifestação nem mesmo 100
mil pessoas, como demonstramos com cálculos matemáticos precisos nesta
edição.
A farsa da Rede Globo e do governo estadual de S. Paulo (PM) fica
desmascarada por si mesma pela evidente composição social da
manifestação, composta apenas pela classe média paulista e pela
burguesia. A Globo quer ocultar o que as imagens mostram: embora a
manifestação seja grande, é esparsa e não concentrada e não fica claro
que a maioria das pessoas tenha efetivamente ido a um protesto, ou
apenas tenha ido pela enorme convocação feita pela Rede Globo que dá a
impressão de ser uma comemoração ou um divertimento de final de semana.
O intuito da falsificação é óbvio, a direita quer criar um fato
político que demonstre que o governo está isolado, não tem condições de
governar no sentido daquilo que tem sido sua meta fundamental: abreviar o
mandato do atual governo.
O sentido ideológico da manifestação também ficou absolutamente
claro. Ao lado das palavras de ordem contra a "corrupção" e "fora PT",
veem-se os cartazes da extrema-direita pedindo a intervenção militar,
atacando a esquerda e o comunismo. Tratou-se de uma manifestação,
convocada, dirigida, organizada e com a completa hegemonia ideológica da
direita anticomunista e fascistoide que vem se desenvolvendo claramente
e, agora, mesmo pesando as falsificações, chegou a realizar uma
manifestação de massas. Estamos considerando é claro o enorme patrocínio
do capital nacional e estrangeiro, dos monopólios da comunicação etc.
que não estão à disposição dos sindicatos e trabalhadores ou da
juventude quando se manifestam. São fatos que fazem parte da conta e que
expressam a força e a organização social da burguesia.
As manifestações fora de S. Paulo, apesar de ampliadas pela lente de
aumento da Rede Globo e outras emissoras, foram pequenas. Segundo as
imagens da própria Rede Globo - que é a verdadeira organizadora da
manifestação - as manifestações fora de S. Paulo reuniram poucas
pessoas. Em Curitiba, cerca de 1.000 pessoas se reuniram na Praça da
Liberdade, muito inferior às manifestações dos funcionários públicos que
chegaram a lotar um estádio de futebol. Em Goiânia, via-se menos de 500
pessoas. É significativo que a Globo mostrasse muito pouco e nem
comentasse as manifestações fora de S. Paulo.
Aqui temos dois fatos contraditórios. De um lado, a manifestação,
como tentativa de demonstrar uma grande unanimidade em favor do impeachment
de Dilma Rousseff foi, concretamente, um fracasso. De outro lado, isso
não impedirá a direita de criar, sobre a base do fato de que conseguiram
uma manifestação de massas pela primeira vez, criar toda uma ilusão
política que poderá impulsionar o movimento golpista.
Uma coisa é certa, com a ajuda do poder social e econômico da
burguesia e explorando a política oportunista da Frente Popular no
governo, a direita deu um grande passo adiante que estimulará a
organização de todos os movimentos direitistas contra a classe
trabalhadora e o povo em geral.
Um alerta para toda a esquerda - mesmo com o gigantesco exagero da
Rede Globo, que configura uma farsa tipicamente golpista, a manifestação
convocada pela burguesia e a direita é expressiva. É, sem qualquer
dúvida, um fenômeno quase inédito para a direita nacional, que revela a
enorme polarização política. O crescimento desse movimento direitista é
uma ameaça para toda a esquerda e para as organizações de luta do
movimento operário e popular. Uma parte da esquerda, principalmente a
ligada ao governo, é tímida em combater a direita e vai perdendo
terreno. Uma outra (PSTU, Psol e congêneres) atua com disposição para
empurrar a classe média para os braços da direita e para colocar a
esquerda na defensiva no que diz respeito à luta contra a direita.
A única política é enfrentar a direita. Enfrentá-la em todos os
terrenos. Enfrentá-la nas ruas, na política, na propaganda, na imprensa,
na luta ideológica e quando se tornar necessário, estar preparado para
enfrenta-la pela força.
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