terça-feira, 31 de março de 2015

PSTU - A classe operária e os trabalhadores precisam entrar em campo contra o governo do PT e contra o PSDB!

Chega de Dilma (PT), PSDB e PMDB! Fora todos os corruptos!

Direção Nacional do PSTU

A classe operária e todos os trabalhadores devem estar pensando e refletindo sobre os atos que ocorreram esses dias. No dia 13, ocorreu um ato em apoio ao governo Dilma Rousseff (PT). Embora parte dos trabalhadores presentes neste ato tenha se manifestado contra a retirada dos direitos por parte do governo, o conteúdo do ato, dado pela sua direção, foi essencialmente em defesa do governo, contra um suposto golpe da direita.

Os atos do dia 15, apoiando-se no sentimento tremendamente majoritário e progressivo de oposição e de indignação contra o governo do PT, acabaram tendo na sua condução grupos de centro-direita e a participação explícita de partidos da oposição de direita como o PSDB e o DEM, que tentam se beneficiar da crise do governo para capitalizar eleitoralmente a insatisfação existente.

No dia 15 houve uma participação expressiva da classe média, em particular de seus estratos mais elevados, que foram às ruas contra o governo e a corrupção (22% dos manifestantes recebiam entre 10 e 20 salários mínimos, e 19% ganhavam mais de 20 salários mínimos por mês segundo pesquisa do jornal Folha de S. Paulo na Avenida Paulista). Uma parte desse setor social não esconde ter ódio e preconceito de classe contra os trabalhadores e o povo pobre do Brasil.

Impeachment não é solução

A classe operária deve estar refletindo por que os atos do dia 15 não falaram nada da retirada de direitos que o governo Dilma do PT está fazendo. Também não disseram nada sobre o aumento do preço das tarifas e dos alimentos. Tampouco mencionaram o ministro banqueiro da Fazenda, Joaquim Levy, nomeado pelo PT, ou a ministra dos ruralistas, Kátia Abreu. Enfim, as manifestações do dia 15 não reclamaram dos direitos trabalhistas surrupiados, do seguro-desemprego, do aumento das passagens, do preço dos alimentos, da luz e da água.

A razão disso foi que, quem esteve por trás da organização da manifestação e dos grupos que se diziam independentes e que a convocaram, era gente do PSDB, do DEM e até de grupos que reivindicam a volta do regime militar. O PSDB, o DEM e os grupos que estiveram na sua organização apoiam as medidas de ajuste fiscal do governo do PT contra a classe trabalhadora.  Ao mesmo tempo, a condição social de parte dos manifestantes, composta por estratos mais altos da classe média brasileira, não se ressente com a retirada do seguro-desemprego, da medida que dificulta o acesso ao PIS. Já os grupos que defendiam a volta do regime militar eram bem minoritários. De qualquer maneira, é repugnante ver essa gente que defende a tortura, a ditadura e a perseguição das lideranças da classe trabalhadora serem aceitos em manifestação. 

O PSTU chamou o voto nulo no segundo turno das eleições e defende que os trabalhadores devem sair às ruas e construir uma Greve Geral contra o governo Dilma e contra os governadores do PSDB, do PMDB e também contra a maioria do Congresso Nacional para defender nossos direitos. Por isso, não apoiamos a manifestação do dia 13, porque este era um ato de apoio ao governo Dilma. E não convocamos o dia 15 porque este foi chamado em defesa do impeachment, que é uma proposta que entrega o governo para o vice Michel Temer (PMDB) ou para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (também PMDB), e por não haver, em sua convocação, a defesa das demais reivindicações da classe trabalhadora. Ou seja, impeachment é trocar seis por meia dúzia.

Golpe da direita?


Logo após o protesto do dia 15, militantes do PT e do PCdoB saíram com a tese de que o governo Dilma enfrenta uma tentativa de golpe da direita. Outros setores falam de onda conservadora.  Essa tese, porém, não encontram amparo na realidade. Vejamos: nem o PSDB, nem a Folha de S. Paulo, nem a Globo, nem os banqueiros, nem as empreiteiras e todos os grandes empresários e banqueiros do país, muitos dos quais apoiaram o dia 15, defendem golpe. Aliás, no momento, não defendem nem mesmo o impeachment.

Hoje, esses setores não querem dar um golpe porque estão empenhados, ao lado de Dilma, na aprovação do ajuste fiscal. Ou seja, apoiam as Medidas Provisórias que retiram o seguro-desemprego e dificultam o acesso ao PIS. Apoiam o aumento dos preços das tarifas de energia, de transporte e dos alimentos. Também apoiam as demissões e a venda de ativos da Petrobras. Defendem o corte de gastos sociais no orçamento (saúde, educação, moradia) para dar ainda mais dinheiro aos banqueiros com o pagamento da dívida pública. Todos estão a favor das demissões e de maior exploração: fazer os trabalhadores produzirem mais e ganharem menos.

Aliás, mesmo o imperialismo norte-americano não quer derrubar o governo. Longe disso, o presidente dos EUA, Barack Obama, inclusive adiantou a agenda para realizar um encontro com Dilma em abril, após o vice-presidente daquele país ligar renovando o apoio do governo dos EUA a Dilma. Como é que o PT e o PCdoB explicam esse apoio?

Os banqueiros e os grandes empresários, além disso, ganharam muito dinheiro em todos esses anos de governos do PT, muito mais do que os trabalhadores e o povo pobre. Agora, querem que a classe trabalhadora pague o preço da crise que eles criaram. Esses senhores não preparam nenhum golpe contra Dilma. O máximo que o PT pode dizer a eles é que são muito mal agradecidos.

O PT sempre governou e continua governando para eles. Por isso, nomeou um banqueiro como ministro da Fazenda, um grande empresário como ministro da Indústria e uma latifundiária como o ministra da Agricultura. Na verdade, hoje, o PSDB, legítimo representante de banqueiros e multinacionais, prefere e quer voltar ao governo nas próximas eleições. Para isso, conta com o apoio dos patrões e da grande imprensa.

Todos têm acordo com a atual política econômica. É isso que faz com que banqueiros, multinacionais, agronegócio, FHC, Aécio Neves, PSDB, DEM, Globo, Folha de S. Paulo e toda a mídia queiram desgastar ainda mais o governo: para ter mais poder de chantagem sobre ele e tentar voltar à Presidência da República em 2018. Enquanto isso, apoiam o governo na aplicação das medidas contra a classe trabalhadora. Apoiaram o dia 15 e estimularam os grupos de centro-direita que estiveram por trás dessas manifestações contra o governo e contra a corrupção (embora eles também sejam corruptos). Mas eles não querem que a classe trabalhadora se mobilize para valer contra o governo Dilma e contra governadores e o Congresso e defendam seus direitos, porque eles têm acordo com o governo em jogar a crise sobre as costas dos trabalhadores.

A manifestação do dia 15, então, embora tenha por trás dos grupos que a organizaram a oposição de direita e tenham dela participado setores de classe média que respondem a um ideário de centro- direita, não inaugura uma onda conservadora no país. Ao contrário, a classe operária e toda a classe trabalhadora, que são a imensa maioria dos habitantes deste país, estão indignados com o governo federal do PT e com todos os governadores do PSDB, do PMDB e demais partidos que aplicam o ajuste fiscal, além do próprio Congresso Nacional e sua maioria de deputados corruptos.

A necessidade mais importante é que essa maioria entre em campo contra o governo e contra a oposição de direita, impondo suas reivindicações e não permitindo que joguem o preço da crise sobre suas costas. A classe trabalhadora, em ação contra o governo e contra a direita, pode também responder às angústias de um setor expressivo da classe média que está indignada e com razão. Afinal, nem todos os setores médios são reacionários por natureza.
Construir a Greve Geral: formar um bloco dos trabalhadores, contra o governo, os patrões e a direita
A saída da crise passa pela mobilização da classe trabalhadora contra o governo do PT e, também, contra o PSDB, e pela derrota do ajuste fiscal. É preciso se mobilizar contra o governo e contra a oposição de direita. É importante a classe operária tomar as ruas com suas bandeiras contra os patrões.

O PSTU entende que é preciso construir uma alternativa dos trabalhadores. A CSP-Conlutas, centenas de sindicatos, entidades estudantis e movimentos populares, além de outros movimentos reunidos no Espaço Unidade de Ação, que fizeram manifestações no dia 6 de março, agora vão realizar uma ampla reunião na próxima sexta-feira, 20, em São Paulo. Em pauta está a articulação de um plano de ação que busque romper esta falsa polarização entre o governo do PT, em aliança com a burguesia, e o PSDB.

O PSTU empenhará seu esforço militante na construção dessa reunião. Nosso partido faz um chamado às organizações da classe trabalhadora, ao MTST, aos partidos de esquerda que fazem oposição ao governo, como PSOL e PCB, e mesmo a setores da CUT ou da base do próprio PT, que concordam com a necessidade de formar um campo da classe trabalhadora contra o governo e a direita: vamos construir um processo de luta de massas, de ação, que busque romper a falsa polarização e criar um campo da classe trabalhadora e da juventude contra os patrões, o governo e a oposição de direita.

Ao mesmo tempo, fazemos um chamado às centrais sindicais e aos movimentos populares que estão contra a retirada de direitos: vamos preparar uma Greve Geral para derrubar as medidas do governo apoiadas pela oposição de direita. A CUT e o MST precisam romper efetivamente com o governo. A Força Sindical precisa romper com o PSDB.

Chamamos as centrais sindicais e os movimentos sociais e populares a construir uma Greve Geral com as seguintes reivindicações:

– Nenhuma demissão! Redução da jornada sem redução do salário! Estatização das empresas que demitirem!
– Retirada das MPs 664 e 665, em defesa do seguro-desemprego, do abono do PIS, da pensão por morte e dos direitos dos pescadores; retirada do PL 4330 (da terceirização)!
– Redução e congelamento dos preços dos transportes, das tarifas e dos alimentos!
– Petrobras 100% estatal sob o controle dos trabalhadores!
– Cadeia para todos os corruptos e corruptores e expropriação dos seus bens, ou seja, incluir a investigação e punição dos casos de corrupção também do PSDB e do HSBC, que envolvem inúmeras empresas e políticos, incluindo a Rede Globo.
– Suspensão imediata do pagamento da dívida aos banqueiros e auditoria, para que os trabalhadores não paguem o preço da crise!


O PSTU reafirma: nem PT, nem PSDB nos representam

É necessário construir nas lutas uma alternativa dos trabalhadores, operária e popular, a esse governo e à oposição patronal de direita. É preciso construir uma greve geral que derrube as medidas que atacam a classe trabalhadora. Só nessa luta podemos criar uma alternativa dos trabalhadores para a crise. A classe operária e toda a classe trabalhadora em luta têm mais força do que o governo, os patrões e a oposição de direita.
E será com essa força em ação que se poderá abrir o caminho para uma luta em prol de um governo dos trabalhadores sem patrões e sem corruptos.

PCR/UP - Resolução sobre a conjuntura

Secretariado Nacional do Partido Comunista Revolucionário (PCR)


Como sabemos, a vitória de Dilma e do PT na última eleição para presidente da República foi uma das mais apertadas da história recente do país. Do total de votos válidos, Dilma obteve 54,5 milhões, enquanto Aécio, 51,041 milhões, ou seja, uma diferença de apenas 3,4 milhões. Além disso, 30,14 milhões de pessoas não votaram em nenhum dos dois candidatos.


Esse resultado expressou um fortalecimento da direita e o crescimento do desgaste do PT junto a setores da população que, em eleições anteriores, votaram neste partido. De fato, somados os votos em Aécio e as abstenções/nulos/brancos, mais de 80 milhões de pessoas não votaram na candidata do PT e de Lula. Destaque-se ainda que o problema não foi falta de dinheiro para a campanha, uma vez que Dilma gastou R$ 330 milhões. O mesmo, porém, vale para o PSDB, pois 84 milhões de brasileiros rejeitaram sua volta à Presidência. As eleições demonstraram, portanto, um certo equilíbrio entre essas duas forças.


Expressão ainda deste desgaste foi a redução da bancada do PT na Câmara dos Deputados: em 2002, elegeu 91 deputados federais; em 2006, 83; em 2010, 88; em 2014, caiu para 70, além de ter perdido em 17 das 27 capitais do país.


O enfraquecimento do PT é resultado do seu processo de degeneração e de direitização que vem ocorrendo desde que o partido aprofundou seus vínculos com a grande burguesia nacional (José Alencar) e com o capital financeiro (Carta aos Brasileiros), mudou sua posição sobre as privatizações e a dívida pública, e, após ter assumido o governo, não realizou nenhuma mudança estrutural na economia do país, nem adotou medidas importantes, como a reforma agrária, a suspensão dos pagamentos dos juros da dívida pública, nem nacionalizou nenhuma das empresas privatizadas por FHC, diferente do que fizeram os governos da Bolívia e da Venezuela, etc. Junte-se a isso o envolvimento cada vez maior do PT em escândalos de corrupção, como é o caso da Operação Lava-Jato.


Após as últimas eleições, esse desgaste se acelerou devido às concessões feitas à direita, como a nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda (indicado pelo dono do Bradesco), de Katia Abreu para o Ministério da Agricultura (indicada pelo agronegócio), entre outros. Mais grave foram as medidas de ajuste fiscal para obter o superávit primário (garantia para pagar os juros da dívida pública), as MPs 664 e 665, que reduzem o direito ao seguro desemprego e ao abono salarial de milhões de trabalhadores e o corte de verbas da educação. Ainda retirou de milhões de famílias o direito à redução das contas de energia e aumentou estas tarifas, assim como fez com o preço da gasolina, além de permitir que grandes redes de supermercados realizassem uma onda de aumentos nunca vista nos últimos anos no país. Tais medidas, contrárias ao que pregou na campanha eleitoral e criticou nos seus adversários, fez a presidenta Dilma perder credibilidade e autoridade perante grande parte da população, além de colocar na defensiva partidos e forças políticas de esquerda que a apoiaram, gerando desconfiança nas massas trabalhadoras e fortalecendo ainda mais a direita e seu discurso.


Ao mesmo tempo, desde a posse do novo governo, cresceu a disputa interna dentro do PT, e o ex-presidente Lula passou a fazer publicamente críticas a ministros e ao modo Dilma de governar, reunindo-se com o PMDB e dando razão aos seus achaques e à sua pressão por mais espaço no governo. Tal comportamento enfraqueceu ainda mais a presidenta e sua autoridade junto ao PT, ao PMDB e a toda chamada base aliada. O fato é que o governo perdeu a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados e votações no Congresso, o que aumentou a desconfiança dos setores da grande burguesia em relação à sua capacidade de seguir governando.


As forças de esquerda que apoiaram a reeleição, vendo as medidas de ajuste fiscal impostas pelo governo, tentaram se mobilizar para revertê-las, convocando as massas para irem às ruas. Entretanto, como o desgaste do governo se acelerava e a extrema-direita continuava se fortalecendo e ameaçando com um impeachment, as manifestações, que inicialmente tinham como reivindicações o repúdio ao corte de direitos e às MPs 664 e 665, a defesa da Petrobras e da democratização dos meios de comunicação, etc., transformaram-se principalmente em atos de apoio ao governo Dilma.


No total, segundo a CUT, as manifestações do último dia 13 de março reuniram entre 150 e 200 mil pessoas em todo país. Embora tenham sido importantes, representam um número pequeno num país do tamanho do Brasil, ainda mais por serem atos convocados por partidos de esquerda, parlamentares, prefeituras e entidades como CUT, MST e UNE, em apoio a um governo eleito há menos de cinco meses com mais de 54 milhões de votos. Lembremos que as manifestações de junho de 2013 reuniram mais de três milhões de pessoas.


Por outro lado, a direita, com total apoio dos grandes meios de comunicação, realizou, no dia 15 de março, atos contra a corrupção e contra o governo, que, segundo o Instituto do DataFolha, levaram às ruas mais de 500 mil pessoas, sendo 72% dos participantes desses atos eleitores do PSDB e, em sua maioria, provenientes das camadas médias e ricas da população. Mesmo assim, esses atos mostraram a ofensiva da direita e de sua capacidade de mobilização de setores mais privilegiados da população e, caso continuem, podem influenciar setores populares. Após o dia 15, um relatório da Secretaria de Comunicação Social da Presidência assim descreveu o estado de espírito da direita e dos membros do PT: “Ironicamente, hoje são os eleitores de Dilma e Lula que estão acomodados com o celular na mão, enquanto a oposição bate panela. Dá para recuperar as redes, mas é preciso, antes, recuperar as ruas”. E: “Não adianta falar que a inflação está sob controle quando o eleitor vê o preço da gasolina subir 20% de novembro para cá ou sua conta de luz saltar em 33%. O dado oficial IPCA conta menos do que ele sente no bolso. Assim como um senador tucano (Antonio Anastasia, MG) na lista da Lava Jato não altera o fato de que o grosso do escândalo ocorreu na gestão do PT”, afirma.


Cabe aqui notar que nem o dia 13/03 nem o dia 15/03 tiveram a massividade e o caráter combativo das manifestações de junho de 2013, que enfrentaram uma feroz repressão e obtiveram conquistas como a redução dos preços das passagens em várias capitais e cidades do país, e sem contar com apoio de nenhum governo ou meio de comunicação.


No momento, embora uma minoria reacionária deseje um golpe militar contra o governo e a volta da ditadura, não há correlação de forças para isso, pois nosso povo conquistou a democracia burguesa graças à luta das massas e de revolucionários como Manoel Lisboa, Carlos Marighella e Sônia Angel e não admite a volta do fascismo. Em suma, os golpistas não passarão! Mas há sim a possibilidade de um golpe institucional, ou seja, de um impeachment, haja vista que o governo segue fazendo concessões à direita e não abre mão de adotar um ajuste fiscal que prejudica os mais pobres nem de demitir seus ministros que representam os interesses das classes ricas. Além disso, seu principal aliado no Congresso Nacional, o PMDB, não tem nenhum princípio.


Para barrar o crescimento da direita e reconquistar o apoio popular, o governo precisa mudar, governar para as massas trabalhadoras e não para as classes ricas, fazer os ricos pagarem pela crise e não os que trabalham e ganham baixos salários. Taxar as grandes fortunas, controlar as remessas de lucros, suspender o pagamento dos juros, controlar os preços, colocar a Polícia Federal para investigar as privatizações e parar de fazer concessões selvagens, privatizações de rodovias, aeroportos e leilões do petróleo. Se o governo continuar jogando nos setores populares a conta da crise, permitindo que as grandes empresas sigam demitindo em massa, eliminando direitos conquistados pelo povo, a direita, com sua demagogia e seus meios de comunicação, atrairá mais e mais apoio junto à população.


Diante desse quadro, não devemos ficar indiferentes. Devemos repudiar todas as tentativas de golpe, denunciar os crimes da ditadura militar, exigir punição para os torturadores, desmascarar quem é o PSDB e o DEM, o que fizeram contra o povo. Ao mesmo tempo, devemos deixar claro que não concordamos com a política econômica do governo, com o ajuste fiscal, com as privatizações e com os privilégios para o capital financeiro. Enfim, o governo precisa dar uma guinada à esquerda e tomar medidas firmes como o congelamento dos preços, a suspenção do pagamento da dívida pública, reestatizar as empresas privatizadas, reduzir o valor da conta de luz e dos aluguéis, taxar as grandes fortunas, diminuir os impostos sobre os trabalhadores, etc. Devemos ainda defender a imediata demissão de Joaquim Levy e Kátia Abreu, mais verbas para a saúde e a educação, e afirmar que nenhuma crise no Brasil pode ser solucionada com a burguesia no governo, além de propagandear nosso programa revolucionário. O fato é que o povo só vai às ruas defender um governo quando este está ao seu lado, e não ao lado dos ricos, ou quando há um risco de golpe fascista e de implantação de uma ditadura no país.


Camaradas, o momento exige firmeza e combatividade de todos os militantes do Partido Comunista Revolucionário. Mais do que nunca, necessitamos crescer a influência do nosso partido sobre as massas trabalhadoras, organizar e apoiar greves, recrutar centenas de militantes, organizar células nos bairros, nas fábricas, nas escolas e universidades, organizar brigadas do jornal A Verdade todas as semanas, conquistar sindicatos, DCEs, realizar ocupações, passeatas e ensinar ao povo que só conquista quem luta. Elevar a consciência das massas sobre a necessidade de uma revolução popular e sobre o que é uma sociedade socialista.


Por fim, não podemos esquecer, porém, que temos também uma grande tarefa neste ano de 2015, que é conquistar a legalização da Unidade Popular pelo Socialismo. É preciso sair da defensiva e colocar como nossa prioridade a coleta de apoiamentos para a UP, ter metas diárias e organizar os dias nacionais para coleta de assinaturas.


Publicado em 22 de março de 2015 - www.pcrbrasil.org

LSR/PSOL - Unir as lutas para derrotar os ataques de Dilma, dos tucanos e dos patrões!

Nota do Comitê Executivo da LSR



Para barrar a direita é preciso fortalecer a oposição de esquerda ao governo!


As manifestações de 13 e 15 de março abrem um novo capítulo na crise política do país. Nenhuma delas, no entanto, aponta uma saída consequente para os trabalhadores e o povo brasileiro.

Na sexta-feira, 13 de março, algumas dezenas de milhares de manifestantes em quase todo o país atenderam ao chamado da CUT, CTB, MST, UNE e outras entidades governistas, além do próprio PT e do PCdoB.

As bandeiras “em defesa da Petrobras, dos direitos dos trabalhadores, da democracia e da reforma política” mal podiam esconder a intenção de defender o governo acima de tudo. Os cartazes e discursos pedindo “Fica, Dilma” não dão margem a dúvida.

No domingo, dia 15, foi a vez de algumas centenas de milhares, também espalhados por quase todo o país ainda que muito mais concentrados em São Paulo, ocuparem as ruas. Dessa vez claramente contra o governo do PT.

A bandeira de “Fora, Dilma” prevaleceu na Avenida Paulista. A iniciativa original foi de grupúsculos de direita e extrema direita que surfam nas ondas da crise, mas que contaram com o apoio ativo de tucanos e afins e enorme estímulo da grande mídia.

O balanço das duas manifestações torna evidentes os riscos da atual situação.

Sem uma poderosa oposição de esquerda ao governo Dilma, enraizada nas lutas populares, dos trabalhadores e da juventude, a direita demagógica e oportunista poderá aproveitar-se da situação, fazendo a consciência retroceder e o país andar para trás.

Enganam-se gravemente aqueles que acham que a luta contra a direita mais reacionária se dará defendendo um governo que ataca os trabalhadores e aplica políticas neoliberais.

Por mais que esse governo tente se vestir de vermelho a única coisa que consegue é sujar a bandeira da esquerda verdadeira.

A insatisfação com o governo do PT explodiu justificadamente com o esgotamento do modelo “lulista” incapaz de fazer frente à grave crise capitalista internacional.

Dilma montou um ministério digno de Aécio (derrotado nas urnas) para aplicar uma política econômica à altura do mais neoliberal dos tucanos.

Com um ajuste fiscal que deve ultrapassar a barreira dos cem bilhões de reais através de cortes nos gastos sociais e elevação de tarifas e impostos, não há como o governo recuperar apoio popular.

Mesmo os tímidos, insuficientes e mal direcionados programas sociais típicos do “lulismo”, como o “Minha casa, minha vida”, estão sendo afetados.

As medidas provisórias 664 e 665 que dificultam o acesso ao seguro desemprego, à pensão por morte e outros direitos, são parte da contrarreforma trabalhista e previdenciária que sempre fez parte dos sonhos da tucanalha.

Com a taxa de juros na estratosfera e o superávit primário garantido, o governo Dilma atende à sanha do grande capital financeiro enquanto o país afunda em direção a uma brutal recessão.

Os conflitos entre o governo do PT e a direita mais reacionária não escondem o fato de que ambos defendem a mesma política econômica e estão do lado do grande capital contra a imensa maioria do povo.

O papel da esquerda socialista digna desse nome é combater a ambos e construir uma alternativa política da classe trabalhadora.

A direita reacionária levanta a bandeira do impeachment de Dilma visando desviar a atenção da verdadeira insatisfação popular com as medidas econômicas neoliberais que eles também defendem.

Não temos nenhum compromisso com esse governo, mas não é o papel da esquerda nesse momento levantar essa bandeira para não fazer coro com a direita reacionária. O impeachment é hoje uma falsa saída na medida em que isso implique na continuidade da política econômica atual. Queremos muito mais do que o impeachment, queremos uma mudança radical no sistema econômico e político.

Nosso centro agora é a derrota do ajuste promovido tanto pelo governo do PT como pelos governos tucanos e afins nos estados e municípios.

Para isso é preciso investir todas as nossas forças na organização da luta dos trabalhadores e da juventude, apoiar, fortalecer e unificar as greves e lutas em curso e criar as condições para uma greve geral nesse país.

A iniciativa do movimento estudantil combativo e dos educadores em construir ações unitárias no dia 26 de março em defesa da educação pública e contra a política de cortes nas universidades federais deve ser reforçada e reproduzida. O mesmo vale para o funcionalismo federal e outros setores.

Repudiamos qualquer ação de tipo golpista da direita, mas não entendemos que essa seja a maior ameaça que paira sobre os trabalhadores nesse momento. O alarmismo fomentado por setores governistas visa apenas justificar a defesa acrítica do governo Dilma.

Aqueles que trabalham com a lógica de que quem não está com Dilma está com a direita são aqueles que na verdade fazem o jogo da direita, especialmente a direita dentro do governo Dilma.

O PSOL deve fazer um chamado à constituição de uma Frente política e social da esquerda e das organizações combativas dos trabalhadores e do povo oprimido.

A unidade do PSOL, PSTU e PCB com os movimentos sociais mais combativos e independentes de governos e patrões seria a base para uma contraofensiva efetiva contra as iniciativas da direita fora e dentro do governo Dilma.

Não há um minuto a perder. A esquerda socialista deve deixar para trás todo o sectarismo e o ranço de disputas menores e esforçar-se seriamente na construção de uma unidade para a luta. Esse é o chamado que fazemos enquanto LSR para todos e todas.

A luta em defesa da Petrobras é uma luta contra os neoliberais tucanos, mas também contra o atual governo que manteve a quebra do monopólio estatal do petróleo, os leilões de bacias (incluindo o pré-sal), as subcontratações e terceirizações e abre espaço para todo tipo de corrupção. O mesmo vale para os Correios, a Caixa Econômica Federal, etc.

Não se resolve a crise da Petrobras tirando sua administração das mãos dos burocratas petistas e acionistas privados e passando-a de uma vez por todas para as mãos dos grandes monopólios privados do petróleo.

A saída só pode passar pelo controle dos trabalhadores sobre uma Petrobras 100% estatal.

Corrupção não é privilégio dos governos do PT. Os tucanos também são campeões de corrupção como demonstram os escândalos da era FHC ou o “tremsalão” tucano em São Paulo.

A corrupção é parte inseparável do sistema político e econômico. Mas, isso não é desculpa para ninguém. O PT chegou ao poder para mudar radicalmente esse sistema, mas acabou mudado por ele.

Para mudar o sistema político e econômico no país o que se precisa é de uma verdadeira esquerda baseada no movimento de massas organizado da classe trabalhadora. Uma esquerda que não tem medo de dizer seu nome e anunciar seu programa, um programa anticapitalista e socialista.
Por isso, defendemos:

  • Derrotar nas greves e nas ruas o ajuste de Dilma e dos governos estaduais e municipais!
  • Barrar as demissões e o arrocho no setor privado – que os patrões paguem pela crise!
  • Nenhum direito a menos – barrar as MPs 664 e 665, o PL 4330 que amplia as terceirizações e todos os ataques aos trabalhadores!
  • Pelo direito à agua, transporte, moradia, saúde e educação – não ao “tarifaço”, sucateamento e privatização dos serviços públicos!
  • Barrar os ataques da direita reacionária – não a redução da maioridade penal; em defesa dos direitos de mulheres, negros e negras e população LGBT! Por 1% do PIB investidos no combate à violência contra a mulher.
  • No lugar dos cortes e ajuste defendemos a taxação das grandes fortunas e a auditoria e suspensão do pagamento da dívida pública aos grandes especuladores!
  • Barrar as privatizações do governo Dilma no setor de infraestrutura, Caixa, etc. Pela reestatização das empresas e bancos que foram privatizados e dos setores chaves da economia com controle dos trabalhadores!
  • Defender a Petrobras conquistando petróleo 100% estatal e com controle dos trabalhadores.
  • Punição de corruptos e corruptores, incluindo expropriação dos recursos desviados – por uma comissão popular de inquérito que faça o que o Congresso reacionário é incapaz de fazer!
  • Por uma reforma política radical que comece com a proibição do financiamento empresarial de campanhas eleitorais, o direito de revogabilidade de mandatos e eliminação do Senado.
  • Unir as greves e lutas em curso (professores, garis, sem-teto, sem-terra, etc) e construir as bases para uma greve geral de 24 horas contra o ajuste e pelos direitos dos trabalhadores. Unidade de ação com todos os setores dispostos a construir essa luta!
  • Por uma Frente de Esquerda e dos Trabalhadores unindo PSOL, PSTU, PCB, MTST, CSP-Conlutas, Intersindical e demais movimentos dos trabalhadores, da juventude e do povo dispostos a enfrentar os governos e construir uma alternativa política socialista no país!

Publicado em 17 de março de 2015 - www.lsr-cit.org

MES/PSOL - Impressões sobre o 15 de março

Por Luciana Genro


Hoje o Brasil teve muita gente nas ruas. Pelo Brasil afora centenas de milhares falaram, se expressaram. Isso em si mesmo exige uma reflexão sobre o que ocorre. É preciso escutar, a partir daí julgar e se posicionar. Em São Paulo a Polícia Militar ( comandada por Alckmin) estimou em 1 milhão( número alardeado pela Globo por horas), o que seria uma grande surpresa para todos, e o Data Folha estimou em 210 mil, um número mais razoável e dentro das previsões.

É claro que ainda teremos que medir o que ocorreu hoje. O que salta aos olhos é que a situação exige uma mudança profunda.Mas nem tudo o que as ruas falam sugerem um bom caminho. As faixas em favor do golpe são um sintoma claro de que mesmo que milhares tenham tomado as ruas, não se abriu um caminho novo e progressista. Não tenho dúvida de que a maioria dos que estavam nos atos não querem uma saída fascista e nem querem ser controlados por aparatos burocráticos. Por isso Bolsonaro e Paulinho da Força Sindical foram hostilizados. As pessoas querem mudanças, mas para que a direita não ganhe na inércia é preciso avançar em um programa. A questão é que mudanças são necessárias e quem são os agentes desta mudança.

O que vimos pelo Brasil foram atos contra o governo Dilma e contra o PT que expressaram uma indignação geral contra a corrupção e a carestia. Entretanto, ao não ter uma ideologia crítica, anticapitalista, o que predominou foi a ideologia da classe dominante, e no guarda chuva desta ideologia as posições de direita e extrema direita também se expressam.

É neste caldo que a grande mídia atua, instrumentalizando e direcionando. Em junho de 2013 a Rede Globo foi questionada nas ruas por ser claramente identificada com a manipulação ideológica. E é, de fato, o grande partido da classe dominante brasileira. Neste 15 de março a Rede Globo estimulou, promoveu a ida às ruas. Este é um dos motivos pelos quais os atos de hoje, embora fortes, são um simulacro de junho de 2013. Não podemos ser ingênuos quando a Rede Globo estimula um movimento. Querem sangrar o governo e liquidar qualquer ideia de esquerda, usando o PT para por um sinal de igual entre esquerda e PT, e desta forma derrotar os projetos igualitários da esquerda socialista.

Quando as ruas começam a ter mais peso que o Parlamento pode ser o sinal de uma mudança positiva. Entretanto dezenas de milhares nas ruas não basta. É preciso um programa. E neste momento as ruas não estão indicando apenas um caminho. E se a estrada errada for a escolhida, ao invés de se progredir e superar a crise, poderemos retroceder e permitir que os grandes empresários,bancos, empreiteiras e corporações midiáticas façam valer sua agenda de defesa dos privilégios e de uma sociedade ainda mais desigual.

Os grupos que na manifestação defendiam abertamente a intervenção militar revelaram o sentido profundo de uma das tendências que este movimento pode promover se não se interpor a discussão do programa e se ganhar força a ideia de que temos uma saída fácil para um problema que na verdade é difícil. E a saída não é fácil justamente porque ela exige enfrentar as classes dominantes.

O PT traiu os interesses históricos da classe trabalhadora e foi muito útil à classe dominante, controlando as greves e protestos e sendo o agente de aplicação dos interesses econômicos da burguesia, deixando migalhas para o povo. Mas junho de 2013 mostrou que o PT já não tem mais esta serventia e a crise econômica exige um ajuste brutal contra os trabalhadores e a classe média. É natural, portanto que a burguesia prefira governar através do seu filho legítimo, o PSDB . Mas seria cair em impressões falsas achar que a burguesia abandonou totalmente o PT. Basta refletir sobre o fato de que o PSDB defende a mesma política econômica que Dilma está aplicando e está envolvido nos mesmo escândalos de corrupção para perceber que eles não querem o impeachment. Como já disse FHC e Aloísio Nunes, eles querem sangrar, render totalmente o governo para garantir que o ajuste de Levy seja devidamente aplicado e os interesses do grande capital preservados neste momento de crise econômica.

Por isso é preciso compreender que as ruas por si só não garantem a soberania popular. É preciso dizer quais interesses fortalecem. E quais pontos de programa alavancam.

As propostas do PSOL para superar a crise partem da necessidade de se combater a corrupção, apoiando as investigações da lava jato e defendendo a punição para todos os corruptos, seja de que partido forem. Também é fundamental terminar qualquer possibilidade dos políticos esconderem sua evolução patrimonial. Precisamos de uma nova legislação na qual os políticos não tenham mais direito a sigilo bancário e fiscal. Igualmente, a lista dos sonegadores do HSBC deve ser revelada e os recursos resgatados.

Mas a luta contra a corrupção não é suficiente. Na economia é preciso impedir que sejam os trabalhadores e as classes medias que paguem pela crise. Basta de arrocho salarial e de demitir trabalhadores para garantir o lucro. Basta de cortar recursos da educação e da saúde e manter o pagamento dos juros da dívida pública aos bancos e grandes especuladores. Basta de extorquir o trabalhador e a classe média com impostos e não cobrar o Imposto sobre as Grandes Fortunas e manter os privilégios fiscais dos bancos. É preciso fazer o ajuste nas costas dos milionários e promover o controle público das corporações privadas.

Ha uma crise de legitimidade geral. É claro que é melhor um canal eleitoral do que continuar como está. Mas novas eleições simplesmente não resolvem. Precisaríamos sim reorganizar todo o país, através de uma constituinte democrática. Impeachment para entregar o governo a Michel Temer ou Renan é inaceitável, seria um desastre total. E para que as eleições representem de fato uma mudança teriam que ser realizadas sob novas regras, sem o dinheiro das empreiteiras e sem as desigualdades abissais na disputa.

A bancada do PSOL no Parlamento tem sido atuante e combativa na luta contra a corrupção e as medidas de ajuste contra o povo. O PSOL tem propostas. Nós as apresentamos na campanha eleitoral e vamos seguir apresentando e lutando por elas. Além disso, nosso papel, como um partido de oposição de esquerda, é ajudar a construir uma alternativa que não seja a manutenção do que está aí, mas que também não coloque água no moinho do PSDB, ou mais absurdo ainda, de uma intervenção militar.

Esta alternativa só pode ser construída a partir de uma agenda de luta contra o ajuste de Dilma/Levy construída pela classe trabalhadora e pela juventude, nos locais de trabalho, nas escolas, nas universidades, lutando por democracia real e construindo um programa anti capitalista. O exemplo da greve dos servidores do Paraná, dos garis do Rio de Janeiro, dos caminhoneiros e tantas outras, é fundamental pois este é o método de luta e o método de se construir uma oposição de esquerda. Estas lutas vão seguir. É desta forma que as ruas precisam falar.

Publicado em 16 de março de 2015 - www.esquerdasocialista.com.br

LER-QI - Os atos do dia 15 e a necessidade de uma resposta independente

Por Iuri Tonelo



Este 15 de março foi um dia importante na vida política do país: centenas de milhares saíram às ruas em diversas capitais do Brasil para protestar pelo impeachment, contra o governo, o PT e a corrupção. Mas o signo do protesto era fácil de reconhecer: não era um “Fora PT” vindo das massas trabalhadores (que também estão muito descontentes com o governo), mas majoritariamente da classe média, hegemonizada pelo sentido político dado pelo seus convocantes ocultos, sobretudo o PSDB e a enorme influência da grande mídia, como a Globo - ainda que tenha extrapolado bastante ao "controle" desses agentes.

A análise do significado desses atos e da resposta política que devemos buscar para situação nacional do país é determinante para os trabalhadores conseguirem dar uma resposta de fundo à realidade nacional que corresponda à imensa insatisfação popular atual.

Quem compôs os atos?


Se tomarmos de um modo geral a composição dos atos expressava hegemonia da classe média. Nessa definição não estamos querendo levar em conta categorias de trabalhadores que tem salários melhores e uma vida (condição) de classe média, mas sim o setor que não se vê como trabalhadores ou diretamente a pequena burguesia (os grandes jornais entrevistavam, sobretudo, donos de comércios). Em alguns estados de maioria da população negra, esse fato se explicitava de modo chocante, pois quase a totalidade da mobilização era de brancos, sobretudo em cidades do nordeste do país, como Salvador ou Recife -e mesmo no Rio de Janeiro e Belo Horizonte, onde se podia observar a presença de negros, o ato mostrou-se mais branco que a média regional.

Ainda que naturalmente as manifestações tiveram um enorme poder de atração em setores de trabalhadores, a enorme insatisfação popular no país e a composição dos atos nos dá um quadro de que a classe média entra em dinâmica política (ativa), enquanto a massa trabalhadora mais geral acompanha com expectativa os atos, observando e especulando se a ação do dia 15 seria a resposta necessária para a crise política no país.

O que expressaram os atos?


As respostas dos atos desse domingo eram no seu sentido geral confusas e com elementos conservadores, que ainda que demonstravam descontentamento com a corrupção e o governo, acabavam por abrir alas para a oposição dominante, que em síntese expressa um enorme problema de como vem sendo canalizado o descontentamento. Nesse sentido, elas expressam também um fenômeno nacional (e mesmo internacional) de crise de representatividade, que nos setores do ato de ontem foram canalizados no “Fora PT”, mas não deixaram de afetar até mesmo setores importantes da oposição (Paulinho da Força Sindical) e a mais importante figura da direita dura no país, Jair Bolsonaro: ambos foram vaiados nas manifestações de São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente, e foram impedidos de discursar.

O forte grito de "Fora PT" que ouvimos é expressão de um país que já estava dividido ao meio nas eleições, com a vitória de Dilma Rousseff (PT) sobre Aécio Neves (PSDB) por uma margem muito curta. Mais que isso, também expressam desilusão em setores votantes de Dilma, que veem sobretudo na corrupção enorme e no total envolvimento do PT nos escândalos que vieram à tona, a certeza de que devem visar uma mudança. Também contribui nisto uma percepção que ainda não é generalizada - mas é crescente entre seus eleitores - de que ela está fazendo tudo ao contrário do que havia prometido.

Desgraçadamente, ao contrário da classe média buscar uma resposta que extrapole essa democracia degradada, seu anseio de mudança, por fora de uma aproximação política aos interesses da classe trabalhadora e do povo pobre, tem sido canalizado no fortalecimento da oposição burguesa, dos partidos dominantes, como o PSDB e mesmo respostas mais à direita.

Mas a força da mobilização não teria sido a mesma se não tivesse a atuação da grande mídia, sobretudo da rede Globo, que fez a “cobertura” nacional das manifestações e incitou os atos intensamente, como parte de seus interesses próprios de ver no país um governo que não só ataque os trabalhadores (com ajuste) como tem feito o PT, mas que tenha sua cara, uma cara conservadora da oposição dominante.

Justamente por isso é ainda mais preocupante e revoltante que em todas as capitais praticamente tivemos manifestações públicas de defesa de um “golpe militar” e mesmo grupos fascistas se sentiram à vontade para expressar seus anseios reacionários. Não deram o tom ao ato e em geral eram setores minoritários, mas expressa a temperatura ideológica do ato que tiveram poucos enfrentamentos contra esses setores, ou seja, as expressões mais fascistas ficaram conciliadas com o sentido mais geral dos atos.

As manifestações, o governo e a oposição no regime político nacional


Se compararmos o dia 13 e o dia 15 fica evidente que a oposição sai muito mais fortalecida. A onda de protestos coloca o governo numa situação ainda mais difícil e pouco depois dos atos tiveram que anunciar supostas mudanças, um “pacote” contra a corrupção (pouco claro em seus efeitos) e, por cima, possíveis mudanças nos ministérios.

No entanto, a ironia da política nesse caso é que quanto mais se polariza as forças no país, mais entre os partidos dominantes (PMDB, PSDB e PT) se desenvolve uma tendência a um “pacto” (dinâmico), pois com a enorme insatisfação popular vigente, a queda vertiginosa da popularidade da presidente e governos, e a crise de representatividade que afeta todas as camadas populares e a classe média, existe um risco de que com a politização se desenvolvam tendências menos controláveis na população e gere uma instabilidade maior no regime político, o que não interessa as forças dominantes.

A oposição naturalmente vai buscar “sangrar” como já disseram, criar um enorme desgaste do governo do PT e enfraquecer a governabilidade de Dilma. No entanto, Aécio Neves passou longe, mesmo depois da manifestação, de reivindicar um impeachment. Propôs uma “agenda positiva”, de “reforma política” e um grande pacto por uma “reforma tributária”. Até aqui, essas são as medidas da oposição e sua estratégia de desgaste do governo e canalização política e mesmo eleitoral, já pensando as próximas eleições.

Isso tudo porque por trás das diferenças, as forças dominantes têm um plano em comum. Fazer os trabalhadores pagarem pela situação econômica do país e, nesse sentido, todos apoiam do começo ao fim o pacote de ajustes econômicos de Dilma, para além do jogo político.

A saída é independente: nem com o desgastado PT e nem com a oposição de direita


Frente a crise de representatividade, a saída dos trabalhadores não pode apontar nem no caminho dos atos do dia 15 e nem em defender o governo do PT. É necessário que construamos uma terceira alternativa, que emane das lutas e da organização dos trabalhadores, retomando seus instrumentos de luta como sindicatos (hoje paralisados pela ação da burocracia sindical) e participando da vida política do país.

Essa saída deve partir de levantar um programa que faça frente aos desmandos e a corrupção dos partidos dominantes, começando por exigir comissões independentes controladas pelos sindicatos, associações populares e organizações de direitos humanos que imponham uma real investigação, punição e confisco de bens dos corruptos e corruptores. As CPIs e investigações feitas pelos artífices desse regime terminam sempre sem a verdadeira punição, mesmo em meio a tantas denúncias.

Além disso, temos que acabar com o poder e os privilégios enormes dos atuais políticos, que mandam e desmandam com seus interesses pessoais e totalmente afastados dos anseios da população. Cada político deveria receber o salário de um trabalhador, como uma professora da rede estadual e deveriam ser revogáveis, tão logo não cumpram suas promessas, que sejam substituídos.

É necessário acabar com os privilégios dos políticos e inclusive com o senado (que expressa ainda mais a casta política do país): uma câmara única de deputados, com salários de professoras da rede, já seria um importante passo para começar a dar um basta nessa democracia degradada no país.

Essas mudanças deveriam estar ligadas sobretudo aos interesses e anseios da população trabalhadora e é necessário pensar, nesse sentido, mais que uma mera “reforma política”, mas a convocação a partir de sindicatos e a mobilização dos trabalhadores de uma verdadeira assembleia constituinte, livre e soberana, para modificar os rumos da democracia atual.

Uma constituinte que coloque fim a essa regime que só os ricos e dominantes podem participar da grande política, modificando as leis que vão contra os trabalhadores, garantindo a punição real aos corruptos e podendo modificar o curso de ataques na economia (ajustes) e o sangramento de nossas contas com pagamento da dívida pública, para investir em saúde, educação, moradia e sobretudo a principal demanda de junho, o transporte, que deveria ser estatizado e controlado pelos trabalhadores e usuários.

Essa é a resposta que os trabalhadores precisam começar a dar. Essa é a resposta aos atos do dia 13 e 15, uma perspectiva independente dos trabalhadores.

Brigadas Populares - Para além do 13×15: o que está em jogo nas manifestações de março de 2015?

Coordenação Política Nacional das Brigadas Populares


As manifestações de apoio (13/03) e contra (15/03) o governo federal indicam um novo período da polarização entre o governismo e a oposição liberal. Agora, além dos tradicionais instrumentos que lhe são disponíveis (meios de comunicação, recursos financeiros ilimitados, forte presença no parlamento, no judiciário e em cargos de poder nos estados e municípios), a direita brasileira conquista uma ampla base social mobilizável para pressionar pelo aprofundamento da agenda conservadora no País. E o governismo, por sua vez, demonstra baixa capacidade de condução das expectativas populares, ficando restrito, em sua manifestação, ao setor mais orgânico do petismo e seus aliados: falhou na capacidade de acessar as massas que levaram Dilma à reeleição.

A rejeição ao sistema de corrupção na Petrobras tem sido utilizada como principal justificativa para a aderência massiva ao 15/03. Porém esta é apenas a superfície da questão.
Primeiramente, há um descontentamento com o governo Dilma em vários segmentos da sociedade brasileira. A classe média que foi às ruas no dia 15/03 viu seus privilégios sociais parcialmente decompostos e uma sensação de bem-estar reduzido. Inflada pela grande imprensa, vem se posicionando contrária a qualquer medida do governo, principalmente às que beneficiam os mais pobres, adotando uma postura mais aguda de preconceito de classe e racial desde as eleições 2014.

A classe trabalhadora não compareceu aos atos do dia 15/03, mas também não se mobilizou na manifestação pró-governo do dia 13/03. Encontra-se descontente com o “pacote de ajustes” promovidos pelo governo Dilma, exatamente o contrário do que foi prometido no momento eleitoral. A adoção do “programa político dos derrotados” faz mais uma vez os trabalhadores e trabalhadoras pagarem a conta da crise.

A política econômica do governo federal tem estrangulado as possibilidades de resistência frente a um cenário econômico internacional desfavorável, que reduz o crescimento e afeta o emprego e a vida das massas populares. Medidas como o aumento da conta de luz e da gasolina, o corte de verbas em políticas sociais, entre outras, já são sentidos pela população, ao mesmo tempo em que são trabalhadas pela grande mídia, desenvolvendo certa identificação nos setores populares com o discurso oposicionista. Mesmo que não tenham acompanhado as manifestações do dia 15/03, a classe trabalhadora está descontente e suscetível ao discurso conservador.

A segunda questão está relacionada ao tratamento que o governo e o PT deram às reivindicações presentes nas Jornadas de Junho de 2013. Em vez de procurar o diálogo com os anseios da população e desenvolver medidas que fossem ao encontro das demandas legítimas, fez o oposto. Não encaminhou absolutamente nada e agiu com truculência sobre os movimentos sociais, principalmente no período pré-Copa. Esta postura levou a uma natural ruptura entre setores progressistas e ativos da população com o Governo (e o PT). Mesmo com a forte participação na campanha presidencial em 2014, esses setores não estão disponíveis para mobilizações pró-governo, mesmo porque, já nos primeiros meses a presidenta faz justamente aquilo que foi eleita para combater. A conciliação como método, o imobilismo político e a recusa em criar uma agenda política progressista condenam governo federal e PT.

Em um ambiente político conservador produzido pelas eleições de 2014, logicamente serão os conservadores os principais beneficiados. Exploram as fragilidades do governo federal e a baixa capacidade do PT na condução política da luta social. O PSDB e seus aliados viram uma janela de oportunidade para desgastar a presidência e levá-la a aprofundar uma agenda liberal-conservadora.

O impedimento (impeachment), mesmo não tendo base legal, é um mote de agitação que mobiliza a insatisfação de amplos setores. Os tucanos animam e dão força para setores fundamentalistas, que adotam o ódio como dispositivo de identidade e aglutinação, ou seja, dá corpo para a ultradireita, abertamente racista, reacionária nos costumes e que tem o povo, e tudo que se relaciona a ele, como inimigo. Parte da classe trabalhadora se encontra iludida e desorientada pelas ações de um governo e de um programa político que até lhe trouxe melhorias de vida, mas que nunca se preocupou em torná-lo protagonista político, a não ser no momento do voto, deixando-o suscetível a serem dirigidos pela direita midiática.

É evidente que, neste cenário, a direita ultraconservadora é o inimigo principal das forças populares de esquerda por ser aquela que pretende subordinar o País ao mercado e o retrocesso cultural e político. É sobre o PSDB e a mídia que a crítica social deve incidir com toda a determinação.

No entanto, isso não significa que se deva abrir mão de uma leitura criteriosa sobre a postura do PT na condução do governo, que, por se recusar a enfrentar os problemas estruturais, acabou sendo ferido pelos ataques daqueles que o próprio governo se recusou a combater de maneira convicta. Em síntese, o PT não é capaz de conduzir a luta contra os conservadores; pelo contrário, está empenhado em defender o governo e não o País. 

O enfrentamento político e ideológico deve se dar de maneira obstinada, não é plausível nenhuma postura de conciliação com a campanha da direita, seja nas ruas ou nas instituições. Tão pouco é razoável assumir uma postura recuada de defesa do governo, porque o que está em jogo é a soberania, o patrimônio público, as conquistas sociais, os direitos.

A defesa da Nação exige que a esquerda aprenda de maneira acelerada a lutar em novas condições e com novos métodos. Exige um novo sistema de unidade e a constituição de uma Nova Maioria política que seja capaz de enfrentar os desafios que estão por vir. É necessária uma junção de forças, com leitura clara do momento, combinação de formas de luta e proposição de pautas unitárias e progressistas, como o fim do financiamento empresarial de campanhas e a democratização da mídia.

Somente a derrota completa da campanha da direita constituirá e credenciará uma nova esquerda brasileira. Para tanto, devemos apostar na Unidade Aberta por uma Nova Maioria que vá além do 13X15; lutaremos todos os dias e todas as noites em favor do Brasil.

17 de março de 2015 - www.brigadaspopulares.org.br

PCO - A burguesia nas ruas

Por Rui Costa Pimenta


A manifestação de ontem, 15, em S. Paulo , filmada ao vivo pela Rede Globo desde as 8 horas da manhã, foi uma típica manifestação da burguesia. As imagens mostram claramente que a composição social da manifestação era esmagadoramente de classe média e burguesa. Nas tomadas da própria Rede Globo não se via uma única pessoa do povo. A manifestação não revelou mesmo que tangencialmente uma verdadeira insatisfação ou revolta popular com quem quer que fosse. Não havia reivindicações econômicas e sociais prementes do povo, até porque não havia povo algum, mas palavras de ordem dirigidas exclusivamente contra o PT, contra Dilma Rousseff e contra a corrupção. Não há nada contra nenhum outro partido ou político. Não há absolutamente nenhuma reivindicação social, nem mesmo em torno do problema da água, extremamente grave em S. Paulo, apenas a questão da corrupção.

A PM, que reduziu os mais de 50 mil manifestantes da manifestação do dia 13 a 12 mil pessoas, aumentou a manifestação da burguesia paulista primeiro para 200 mil, depois 240 mil e meia hora depois para 580, chegando menos de uma hora depois a nada menos que um milhão de pessoas, uma falsificação escandalosa. Não houve na manifestação nem mesmo 100 mil pessoas, como demonstramos com cálculos matemáticos precisos nesta edição.

A farsa da Rede Globo e do governo estadual de S. Paulo (PM) fica desmascarada por si mesma pela evidente composição social da manifestação, composta apenas pela classe média paulista e pela burguesia. A Globo quer ocultar o que as imagens mostram: embora a manifestação seja grande, é esparsa e não concentrada e não fica claro que a maioria das pessoas tenha efetivamente ido a um protesto, ou apenas tenha ido pela enorme convocação feita pela Rede Globo que dá a impressão de ser uma comemoração ou um divertimento de final de semana.

O intuito da falsificação é óbvio, a direita quer criar um fato político que demonstre que o governo está isolado, não tem condições de governar no sentido daquilo que tem sido sua meta fundamental: abreviar o mandato do atual governo.

O sentido ideológico da manifestação também ficou absolutamente claro. Ao lado das palavras de ordem contra a "corrupção" e "fora PT", veem-se os cartazes da extrema-direita pedindo a intervenção militar, atacando a esquerda e o comunismo. Tratou-se de uma manifestação, convocada, dirigida, organizada e com a completa hegemonia ideológica da direita anticomunista e fascistoide que vem se desenvolvendo claramente e, agora, mesmo pesando as falsificações, chegou a realizar uma manifestação de massas. Estamos considerando é claro o enorme patrocínio do capital nacional e estrangeiro, dos monopólios da comunicação etc. que não estão à disposição dos sindicatos e trabalhadores ou da juventude quando se manifestam. São fatos que fazem parte da conta e que expressam a força e a organização social da burguesia.

As manifestações fora de S. Paulo, apesar de ampliadas pela lente de aumento da Rede Globo e outras emissoras, foram pequenas. Segundo as imagens da própria Rede Globo - que é a verdadeira organizadora da manifestação - as manifestações fora de S. Paulo reuniram poucas pessoas. Em Curitiba, cerca de 1.000 pessoas se reuniram na Praça da Liberdade, muito inferior às manifestações dos funcionários públicos que chegaram a lotar um estádio de futebol. Em Goiânia, via-se menos de 500 pessoas. É significativo que a Globo mostrasse muito pouco e nem comentasse as manifestações fora de S. Paulo.

Aqui temos dois fatos contraditórios. De um lado, a manifestação, como tentativa de demonstrar uma grande unanimidade em favor do impeachment de Dilma Rousseff foi, concretamente, um fracasso. De outro lado, isso não impedirá a direita de criar, sobre a base do fato de que conseguiram uma manifestação de massas pela primeira vez, criar toda uma ilusão política que poderá impulsionar o movimento golpista.

Uma coisa é certa, com a ajuda do poder social e econômico da burguesia e explorando a política oportunista da Frente Popular no governo, a direita deu um grande passo adiante que estimulará a organização de todos os movimentos direitistas contra a classe trabalhadora e o povo em geral.

Um alerta para toda a esquerda - mesmo com o gigantesco exagero da Rede Globo, que configura uma farsa tipicamente golpista, a manifestação convocada pela burguesia e a direita é expressiva. É, sem qualquer dúvida, um fenômeno quase inédito para a direita nacional, que revela a enorme polarização política. O crescimento desse movimento direitista é uma ameaça para toda a esquerda e para as organizações de luta do movimento operário e popular. Uma parte da esquerda, principalmente a ligada ao governo, é tímida em combater a direita e vai perdendo terreno. Uma outra (PSTU, Psol e congêneres) atua com disposição para empurrar a classe média para os braços da direita e para colocar a esquerda na defensiva no que diz respeito à luta contra a direita.

A única política é enfrentar a direita. Enfrentá-la em todos os terrenos. Enfrentá-la nas ruas, na política, na propaganda, na imprensa, na luta ideológica e quando se tornar necessário, estar preparado para enfrenta-la pela força.

PCB - A adaga dos covardes, ou, O limite da imbecilidade direitista

Por Mauro Luis Iasi



Um amigo libanês, pintor de primeira e bruxo militante, mostrou-me certa vez uma adaga em uma bainha de prata ricamente trabalhada com uma inscrição em árabe que ele traduziu. A frase alertava ao portador da arma que seria sábio quem não a desembainhasse, mas aquele que o fizesse não usando a arma seria um covarde.

A delicada conjuntura em que nos encontramos está cheia de blefes, o que torna difícil a análise. A direita ameaça com o impedimento da presidente, um ex-presidente ameaça colocar o “exercito” de outros para defender o seu governo, outro ex-presidente tece pendores democráticos e de respeito a legalidade enquanto seu partido conspira na direção oposta.

Como sempre, para superar a borbulha enganosa da aparência, é necessário descer às determinações de classe e aos interesses em jogo.


[TRÊS BLEFES]

O equilíbrio do governo de pacto social sempre foi difícil uma vez que supõe poder conciliar o que é inconciliável, isto é, os interesses de classe opostos de trabalhadores e burgueses. A engenharia possível pressupõe uma certa estabilidade econômica e uma governabilidade negociada por meio de cargos no governo, favorecimentos eleitorais e emendas ao orçamento para responder aos lobbies por trás (pela frente e por todos os lados) dos digníssimos parlamentares eleitos e se completa com a ação de governo que garante as condições para a acumulação de capitais em proporções adequadas. Enquanto isso acena aos trabalhadores com a miragem da inserção na sociedade de mercado via garantia dos níveis de emprego e salário, acesso ao crédito e programas compensatórios de combate às manifestações mais agudas da miséria absoluta.
O mais importante é que funciona enquanto a burguesia deseje que funcione.

Por um tempo funcionou e reconduziu os governos petistas em três mandatos consecutivos. O quarto mandato chegou de raspão com o país dividido praticamente ao meio. Um congresso nacional ainda mais conservador, uma oposição fortalecida e um PMDB como fiel da balança e representando a condição, mais que nunca, para a governabilidade. Uma receita para a instabilidade, toda a negociação anterior e durante a campanha eleitoral se torna insuficiente. O PMDB exige mais espaço (Lula se apressa em afirmar que concorda com o pleito), mas também mais protagonismo e mais independência. Ganha a presidência da Câmara com Cunha e endurece a negociação sobre a composição do governo e o orçamento abrindo margem para chantagear a presidência.

Aqui o primeiro blefe. O PMDB tem a vice presidência e vários ministérios chaves. Controla um quinhão invejável no segundo e terceiro escalões, governos de estado que por sua vez dependem de projetos e verbas federais, assim como de favores eleitorais dos mais diversos. Tem pouca chances de um vôo solo como alternativa e suas chances estão ligadas ao sucesso do governo que enfraquece para negociar melhor.

O PSDB, histrionicamente bradando contra o governo com o cacife de uma oposição que garfou mais de 48% dos votos no último pleito, também se encontra em posição problemática. Não pode atacar o governo pelas medidas impopulares assumidas, pois as defendeu abertamente na campanha. Da mesma forma tampouco pode se dar ao luxo de se contrapor à linha geral da condução da economia e do Estado, pois no essencial respeita os compromissos macro econômicos, a premissa sacrossanta do superávit primário, a lógica privatista e mercantilizadora da vida… Escolheu a centralidade dos escândalos e da corrupção, mas convenhamos, é um terreno em que o PSDB não tem só o telhado de vidro, mas uma casa todinha de vidro. Basta lembrar a forma como foi feita a privatização das tele-comunicações sob a batuta do falecido Serjão, a entrega da Vale do Rio Doce, as contas não tão secretas em paraísos fiscais, para não falar do metrô de São Paulo e outras aventuras conhecidas.

Eis o segundo blefe. Alardeia-se o combate à corrupção, torcendo para que a apuração rigorosa e profunda, “doa a quem doer”, não chegue muito perto da mão que acusa, como o caso do HSBC parece indicar. Se o caos interromper o mandato da presidente e gerar dividendos eleitorais ao PSDB, ótimo para eles, mas não se pode fritar muito de modo que a fumaça não sufoque a todos na cozinha do Estado burguês. Qualquer alternativa de governo do PSDB passa pela negociação com o PMDB, daí o dilema: como queimar a gordura do PT sem tostar o bife do PMDB?
Por isso o escudeiro do caos, Aloysio Nunes e outros asseclas, vão às ruas pelo “sangue” de Dilma Rousseff, enquanto FHC e Aécio Neves, pedem um pouco mais de calma. Afinal, somos todos civilizados, não é?


[A APOSTA PETISTA]

O governo, um tanto quanto desorientado, pois julgava que bastava a mera repetição do mesmo procedimento anteriormente exercitado e uma base sólida no Congresso para escapar do pior da crise, tateia erraticamente. Antes das eleições sua prioridade era recompor uma base e compensar as defecções, como as PSB e PTB, mas, prioritariamente mostrar-se confiável aos financiadores de campanha: as empreiteiras, os bancos, os industriais, o agronegócio, em suma, os donos do governo. As alianças, o programa e o perfil da campanha não deixaram margem à dúvida desta prioridade.
No entanto, a polarização da campanha contra o PSDB (Marina foi um episódio inflado que não se manteve) obrigou os petistas a desenterrar o discurso da luta entre ricos e pobres, do fantasma do passado e, na reta final, produzir um factóide diversionista segundo o qual trata-se de um embate de projetos que contrapunha de um lado uma direta privatista, que atacaria os direitos dos trabalhadores e reverteria as “conquistas” alcançadas, e de outro uma proposta progressista que enfrentaria a crise com crescimento (o que implicava, por sua vez, a manutenção da generosa ajuda aos capitalistas) e não realizasse ataques aos direitos dos trabalhadores.

Vejam que o governo agiu com uma certa sinceridade. Precisava atrair os setores sociais (por isso o discurso), mas não podia romper com suas alianças e com as exigências de seus patrões (por isso a manutenção do rumo geral conservador). Não é esse o blefe do governo. É que tem gente que quer tanto uma coisa que a projeta na realidade como se realidade fosse…

O problema é que passada as eleições, os setores sociais e movimentos populares que generosamente se dispuseram a votar na candidata “mais progressista” para evitar a direita, se viram diante do constrangimento de um governo que moveu-se rapidamente para implementar tudo aquilo que a direita perversa propôs. Os movimentos sociais e populares já tinham cumprido sua função, agora era o momento da incrível arte do pragmatismo político no qual o governo do PT tinha que gerar as condições para manter-se no governo até o final e, quem sabe, um próximo mandato. Nesta direção era necessário recompor a base, acertar a vida com o Congresso e tomar as medidas amargas contra os trabalhadores para garantir a continuidade da política de superávits primários e a sangria de recursos do fundo público para o capital financeiro.

Evidente que isso gerou um descontentamento muito grande, mas aqui fico na incômoda posição de defender a presidente Dilma. Ela falou que ia fazer isso, era evidente que faria. Os setores sociais que apostaram, com razões louváveis e algumas até justificadas, nesta opção estão descontentes com a imagem que criaram e não com o real efetivo. Acontece com torcidas de futebol, com relacionamentos amorosos… acontece também com projetos políticos. Já cantava Chico com as palavras de Ruy Guerra:
“Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito,
Me assombra a súbita impressão de incesto”.
…e até o Chico acreditou!

Certos movimentos sociais, setores populares e segmentos de esquerda literalmente não negociaram nada. Daí o qualificativo “generosamente” ao tratar do apoio oferecido. O Governo não se comprometeu formalmente com nenhum dos pontos que constituem a fantasia imaginada de uma inflexão à esquerda. Pelo contrario, deu o tempo inteiro mostras que não alteraria o rumo da política que enterrou a reforma agrária em benefício do agronegócio, os direitos trabalhistas em nome das condições favoráveis ao crescimento da economia capitalista, a privatização contra as políticas públicas, o acordo com os fundamentalistas religiosos descartando a luta contra a homofobia e outras pautas, a conivência com velhas formas políticas contra uma verdadeira mudança das regras do fazer política na direção dos interesses populares.


[A VELHA DIREITA]

Aqui é que começa o problema. Apesar de ter cedido em tudo… tudo mesmo, ao que a ordem burguesa exigiu, o governo de pacto social do PT continua ameaçado. Ocorre é que a metáfora da adaga aqui se torna limitada. Não estamos diante de um instrumento nas mãos de um sujeito, mas de uma dinâmica política que uma vez desencadeada ganha certa autonomia. Os sujeitos políticos são compósitos, formados por fragmentos, facções segmentos que reproduzem em ponto menor o dilema da sociabilidade burguesa: a contradição entre interesses individuais particulares e interesse geral.
Nenhum ator particular que desembainhou a adaga parece de fato querer o impeachment, mas parece que a adaga quer. Em tempos de fetichismo absoluto, um fenômeno desses não devia nos espantar. É verdade que a burguesia monopolista em suas diferentes facções (industrial, bancária, agrária, comercial, etc.) nunca ganhou tanto e prescreveu o remédio que seus funcionários no governo estão zelosamente administrando. Precisa de estabilidade institucional, teme reviravoltas que possam colocar em risco, real ou potencial, a ordem. Mas adorariam encerrar este ciclo de governos petistas. E se houver possibilidade, porque não?

O mesmo pode ser dito do imperialismo. Alguns governistas afoitos e seu exercito de dedos nervosos nas redes sociais, desenterraram o imperialismo como o sujeito oculto da desestabilização. Ora o imperialismo sempre pensa em cenários e a desestabilização nunca ficou fora da pauta. A pergunta é: como se pensou nestes doze anos enfrentar esta evidência? Armando o povo, preparando as forças armadas e buscando aliados, como na Venezuela? Ou se mostrando confiável e evitando se apresentar como responsável, como nos governos Lula e Dilma, e fazendo um acordo militar com os EUA, mobilizando e dirigindo tropas de intervenção no Haiti?

Impedimentos e interrupções institucionais não são utilizados apenas contra governos de “esquerda” ou de um reformismo potencialmente perigoso à ordem capitalista (duas coisas que o governo do PT não representa nem remotamente) mas também contra governos que já cumpriram sua função e passaram a se tornar incômodos. É o que aconteceu quando surgiu a necessidade de interromper o Estado Novo getulista ou a autocracia burguesa no final dos anos 1970.

A grande burguesia e o imperialismo lucraram com o ciclo petista, mas não lutarão para defendê-lo se ele ameaçar ir para o ralo. A burguesia não é fiel, nem monogâmica. Nunca foi. Não será agora que irá mudar sua natureza.

A expressão política da burguesia tem, no entanto, outros problemas. A ocupação do espaço político central pelo PT lhe rouba sua essencialíssima função na vida. Ela precisa encontrar um meio de se livrar do PT porque este ocupa o lugar que por coerência seria o seu, por isso quer aproveitar toda chance possível. Sua responsabilidade com os interesses de classe da grande burguesia monopolista faz com que ela hesite, assim como o medo de, no chumbo trocado das acusações, colocar em risco a ordem instituída. Mas ela tem a obrigação de tentar, porque disso depende sua sobrevivência.

[A EXTREMA DIREITA]

Isso é diferente quando se trata da extrema direita. Ela é o cachorro louco da burguesia. É incômoda e caricatural, mas útil. Não pede licença para pôr fogo no circo. Em épocas normais a burguesia a mantém presa na jaula do Estado de Direito, mas a crise é seu habitat natural. Isolada ela é só pitoresca, como nas marchas que andou ensaiando pelo país. Mas, num certo caldo de cultura, se alimenta do irracionalismo e do conservadorismo, cresce e pode se tornar uma ameaça, mesmo um incômodo para seus donos.
A extrema direita foi às ruas e ganhou dimensão massiva nos últimos protestos pelo impeachment. A extrema direita quer o impedimento da presidente, se possível seu fuzilamento e a exumação do corpo de Marx para ser fuzilado também. Parece que descobriram o motivo do desmonte da educação no Brasil, é um perigoso terrorista de barbas longas (sem turbante) chamado Paulo Freire.


[O BLEFE PETISTA]

Diante deste cenário intricado o PT mantém-se fiel à sua ação aparentemente errática. Faz todos os esforços para garantir a credibilidade diante do grande capital e de seus aliados de direita, que constituem a base operacional de seu governo; ao mesmo tempo em que precisa mobilizar suas “bases sociais” (de fato eleitorais) para não virar presa fácil contra aqueles que querem sua queda.
Neste ponto a coisa fica ridícula. O governo impõe as chamadas medidas de austeridade e ataca diretamente os direitos dos trabalhadores. O principal partido do governo (talvez o segundo na linha hierárquica depois do PMDB) – o PT – aprova por maioria as medidas de austeridade propostas, e o ex-presidente Lula conclama que elas são necessárias e não atacam os direitos dos trabalhadores. Ao mesmo tempo conclama suas “bases sociais” (na verdade, em parte aparelhos burocráticos que um dia foram organizações independentes da classe trabalhadora) para atos em defesa do governo, mas contra as medidas de austeridade… do mesmo governo… que implementa as medidas… Estão acompanhando?

Ora, aqui também não se deve culpar o PT. Ele não pode fazer outra coisa. Os setores que, com razões honestas, queriam uma guinada à esquerda estão trabalhando com o desejo, não com a realidade. Este seria o caminho mais rápido para o impeachment. O governo jamais fará isso. Todos sabem. Desde os que sinceramente gostariam que o governo fosse mais à esquerda, até os governistas mais renitentes que acham que tudo está certo e não há nada a ser corrigido.
Este é o blefe.

Mobilizam as massas, mas para apassivá-las. As mobiliza para usá-las como instrumento em seu jogo e não como força própria em busca de seus próprios interesses de classe. É para ameaçar seus aliados e adversários. Desembainha uma adaga que não pretende usar.
A direita chama um ato pelo impeachment. Lógico que a extrema direita se anima. Mas as lideranças estão preocupadas, seus nomes andam sendo divulgados pelas listas dos envolvidos nos atos de corrupção. FHC pede calma, não é hora de impeachment. Michel Temer sorri ao lado dos presidentes do Senado e da Câmara (os dois na lista) na arte de fazer de conta que ele não tem nada haver com isso.

Na mais alta temperatura do acirramento, escuto a notícia que Dilma propôs um pacto… com o PSDB… que não aceitou… mas, está pensando. Depois do domingo amarelo… duvido.
No meio disso uma população tentando entender o que está acontecendo. De um lado, um cara com uma adaga bradando – “vou te meter um impeachment no bucho!” – (lógico, com muita calma para não prejudicar os negócios), de outro um senhor que pregava a paz e o amor e que adora dizer que banqueiros nunca ganharam tanto em seu governo ameaçando chamar as massas para uma rebelião (lógico, desde que não atrapalhe o bom relacionamento da ministra do agronegócio com a presidente e as medidas de austeridade, que na verdade são necessárias… não é?).
De um lado os governistas chamam um ato contra as medidas de austeridade que atacam os trabalhadores e em defesa do governo que as aplica, de outro a direita que quer derrubar o governo “esquerdista”, mas aprova as medidas.

E vocês querem que os trabalhadores entendam isso? Lá na consciência imediata da classe trabalhadora uma faxineira explica ao repórter de um jornal paulista porque aderiu as vaias contra a presidente diante de seu pronunciamento (no qual disse que era preciso coragem para aplicar as medidas contra os trabalhadores propostas por seu ministro Levy) e diz:
“Querem saber o motivo da vaia? É simples: estou cansada de trabalhar e não ter nada”.
Outro trabalhador é ainda mais direto:
“Ela mexeu nos direitos do trabalhador. Falou a campanha inteira que não ia e fez”.
(“Após manifestação de ‘peões’, empresária defende petista“, Folha de S. Paulo, 11/03/2015, por Juliana Sayuri e Daniela Lima)


[A PERGUNTA QUE NÃO SE CALA]
Que a direita e a extrema direita se comportem como tal é compreensível e esperado. A pergunta que precisa ser respondida é por que ela ganha apoio de amplos setores de massa. A resposta cômoda para o governismo defensor do pacto social é simplista, trata-se de quem votou e quem não votou na Dilma. Típico de quem abandonou o referencial de classe para pensar em eleitores. Trata-se perigosamente de um momento onde os anseios e inquietações de setores dos trabalhadores estão sendo capturados pelo ideário conservador e de direita.

E que ideário é esse? A rede Globo em mais uma demonstração de miséria jornalística tenta enquadrar a realidade no molde de seu jornalismo de desinformação, transformando o circo de horrores da direita na rua no dia 15 em uma “festa da democracia” e perguntando aos inquietos e perdidos ministros Rosseto e Cardoso como o governo responderia às “demandas da ruas”, a “voz das ruas”, o “grito das ruas”. Apesar da emissora (que recebeu auxílio governo petista para não quebrar) tentar reapresentar o samba de uma nota só da corrupção, as “ruas” gritavam coisas como: “pela intervenção militar”, “morte aos comunistas”, “em defesa do feminicídio”, “pela maioridade penal”, “contra as doutrinações marxistas nas escolas”. Algumas demandas, para facilitar o entendimento, escritas em inglês e francês.

Vejam, com todos os problemas das Jornadas de 2013 podíamos ver ali como central um conjunto de demandas como a defesa do transporte público, contra os gastos com os eventos esportivos, contra a violência da política militar, a denúncia dos limites desta pobre democracia representativa. Ainda que houvesse por um tempo, a tentativa de contrabando das bandeiras direitistas elas foram sendo isoladas das manifestações. Agora elas dão o tom e organizam grandes manifestações em defesa da barbárie.

Interessante notar que as Jornadas de 2013 forma violentamente reprimidas e o senhor Cardoso, Ministro da (in)Justiça, se apressou a cercar de garantias legais a ilegalidade da repressão e criminalização dos movimentos. Já no festival da extrema direita anti-comunista a policia militar tirava fotos e selfies com os animados participantes vestidos com a camisa da CBF, enquanto à noite o Ministro dizia que precisamos respeitar as manifestações porque são democráticas.
 [Oficial da tropa de choque tira foto com família verde a amarela. A imagem foi capturada pelas lentes da TV Trip na cobertura que fez da manifestação em São Paulo]

Meu barbeiro, filho de operário eletricitário, que se animou com a campanha das diretas porque queria votar para presidente, diz que este governo precisa acabar porque senão vai implementar aqui um regime parecido com o da Venezuela e sugere duas alternativas: entregar o Brasil para ser administrado pelos EUA ou devolver aos índios (eu sugeri que ele insistisse na segunda alternativa).

O mais surpreendente, no entanto, foi sua conclusão diante das minhas ponderações. Com o olhar sério e aquela autoridade que só possui quem segura uma navalha afiada em sua garganta, ele concluiu: “Sabe, eu acho que ninguém quer o impeachment, o que eles querem é deixar este governa sangrar por quatro anos para depois derrotá-lo de uma vez por todas nas próximas eleições”.
Sabe do que mais, acho que meu barbeiro está certo. Feito isso, pegou a navalha e aparou o que restava de cabelo na minha nuca, limpando a espuma em um pano. Lá na rua ainda se ouvem os gritos de combatentes segurando suas adagas cegas que não pretendem usar… “olha que eu te furo”… “não se eu te furar primeiro”… enquanto se prepara o acordo.

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Mauro Iasi é professor adjunto da Escola de Serviço Social da UFRJ, pesquisador do NEPEM (Núcleo de Estudos e Pesquisas Marxistas), do NEP 13 de Maio e membro do Comitê Central do PCB. É autor do livro O dilema de Hamlet: o ser e o não ser da consciência (Boitempo, 2002) e colabora com os livros Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil e György Lukács e a emancipação humana (Boitempo, 2013), organizado por Marcos Del Roio. Colabora para o Blog da Boitempo mensalmente, às quartas.
Fonte: http://blogdaboitempo.com.br/2015/03/17/a-adaga-dos-covardes-ou-o-limite-da-imbecilidade-direitista/