Opinião de Edgard Leite de Oliveira
Ratos!
Ratos!! Ratos!!! Ratoooos!!!! Com estes gritos ensurdecedores a
platéia, que esgotou os ingressos com 15 dias de antecedência, saudava a
entrada no palco da banda Ratos de Porão no último domingo (06/04) no
Studio Bar em Belo Horizonte. Para mim, era a quinta vez que via a banda
que me fez enxergar o mundo de outra forma aos 12 anos de idade e, pensando que isso já faz 20 anos, este seria o mais especial.
A
formação do Ratos de Porão foi Mingau (guitarra), Jão (bateria), Jabá
(baixo) e João Gordo (voz), a mesma de 1984 quando gravaram e lançaram
seu primeiro disco Crucificados pelo Sistema. A proposta foi voltar com
esta formação e tocar as músicas desta época, o que fizeram com muito
profissionalismo e entusiasmo.
Mas ao olharmos aqueles senhores
de cabelos e barba brancas, com quase ou até mais de 50 anos, se
divertindo como crianças, percebemos a dimensão da obra deles. Entre uma
música e outra, João Gordo aponta para os colegas de banda e diz:
“Estes caras são os percussores do HardCore no Brasil!”. De fato ele tem
razão, se a década de 80 foi um marco para a música de protesto no
Brasil, o Ratos de Porão foi fundamental para isso.
João Gordo
no palco perguntou: “Sempre fomos uma banda antifascista? Sempre
fomos uma banda anticapitalista?” Todos que estavam ali não tiveram dúvidas ao responder um sim em alto e bom som. Filhos da classe
trabalhadora do ABC paulista encontram trabalhadores e filhos de
trabalhadores mais uma vez. Tem sido assim durante 30 anos, dizendo tudo
que sempre disseram, jogando ácido ao comportamento e ao sistema
capitalista. As músicas Pobreza, Crucificados pelo Sistema,
Agressão/Repressão, FMI e outras, são a mais pura manifestação de ódio e
protesto ao sistema capitalista.
Quando Ratos de Porão subiram
ao palco domingo, se ergueu mais que do que uma banda, lá estava parte
fundamental da história da música de protesto, pessoas que doaram sua
vida à música e à arte fora dos grandes mercados da música tupiniquim e
das modas radiofônicas. Enquanto a mídia e o mercado fonográfico buscam suas novas tendências e modas, os intelectuais, hipsters e a esquerda
festiva se perdem entre ídolos burgueses, mercenários do samba, MPB,
novas bandas retrôs cópias da velha conservadora bosta nova, o Ratos de
Porão seguirá com o som de protesto e o discurso anticapitalista, ainda
bem.
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