quarta-feira, 9 de abril de 2014

OPINIÃO: O Governo de Minas seria diferente com o PT?

Por Gustavo Machado
Publicado originalmente no blog do PSTU Minas.


O estado de Minas Gerais é governado há 12 anos pelo PSDB. Desde 1987 que praticamente dois partidos se revezam à frente da administração estatal: PMDB e PSDB. Qual o resultado deste longo período de hegemonia destes dois partidos? Não é difícil perceber. Neste longo período viu-se o completo desmantelamento do ensino público estadual, que era considerado referência nacional até o meados dos anos de 1990, assim como da saúde pública, serviços essenciais para o conjunto da população. Minas Gerais se destacou, dentre todos os demais estados brasileiros, na ineficiência e descaso nas obras da copa do mundo, quadro este que levou, nos dias de jogos da copa das confederações, centenas de milhares as ruas. Ora, neste cenário, é natural que muitos vejam no PT uma alternativa para as eleições do próximo ano dado que este partido, em particular, e a esquerda, em geral, jamais governaram o estado de Minas Gerais.

Este discurso, como sabemos, é onipresente entre os integrantes do PT mineiro. Estes reafirmam até a exaustão que Minas jamais passou pela experiência de uma administração petista e, como de costume, atribuem todas mazelas do estado ao longo período de administração tucana. Temos total acordo com muitas das críticas dirigidas ao PSDB, todavia, o argumento de que a solução repousa em uma administração petista se fundamenta em uma noção completamente esvaziada de qualquer conteúdo, um argumento puramente retórico: Se está ruim é necessário mudar. Isto é, evidentemente, verdadeiro. Mas a questão central é outra: mudar em que direção? Qual o conteúdo da mudança? O que de fato precisa ser transformado? Uma mera mudança no nome dos indivíduos e partidos que encabeçam um governo não significa, em nenhum sentido, uma mudança real nos rumos da administração anterior, menos ainda uma mudança para melhor.

Uma breve olhadela pelas administrações municipais e estaduais Brasil afora deixam claro que o PT tem a nos oferecer um estreito horizonte de expectativas e poucas esperanças. Afinal, a principal cidade brasileira, São Paulo, governada pelo PT, não goza dos menores índices de popularidade da atualidade? O estado do Rio Grande do Sul, governado por Tarso Genro, um histórico militante petista, não tem se diferenciado pelo extremo grau de repressão aos movimentos sociais com invasões arbitrárias das residências e indiciamento dos ativistas? O PT não esteve por 20 anos, direta ou indiretamente, a frente da prefeitura de Belo Horizonte, permanecendo inalterado os problemas estruturais da cidade? Por que motivo deveríamos acreditar que agora será diferente?

É necessário dizer que se algum motivo existiu um dia para depositarmos nossa confiança e esperanças no PT, hoje se perderam por completo. O PT, seja em Belo Horizonte, Minas Gerais ou no Brasil, é financiado pelos mesmos empresários e acionistas das empresas de transporte público, das mineradoras, das industrias etc… que ditam as cartas das respectivas administrações. E suas prioridades são, evidentemente, opostas as do restante da população. Por exemplo, na última eleição a mineradora Vale S.A., privatizada à preço de banana e que exaure as riquezas de nosso estado com impostos irrisórios, doou mais de 10 milhões de reais para a campanha petista e pouco menos de 7 milhões de reais para os tucanos. E nem precisa dizer que nada é de graça neste nosso mundo capitalista. E realmente. Alguns anos atrás, a mineradora Vale do Rio Doce travou uma longa batalha judicial para explorar a mina de Capão Xavier que a legislação proibia por se tratar de uma área de mananciais que abastecem o conjunto da zona metropolitana de Belo Horizonte. Curiosamente, neste episódio, o então prefeito de Belo Horizonte e potencial candidato ao governo de Minas Gerais, Fernando Pimentel, estava como réu no processo por favorecer à empresa.

Sabemos que muitos ativistas ligados ao PT entregaram sinceramente e honestamente sua vida à perspectiva de transformação social que um dia este partido, de alguma maneira, representou. Encontram-se hoje perplexos com a possibilidade de abandonar esta alternativa que está ligada de maneira indissociável ao seu passado e as esperanças que um dia se encontravam reluzentes e hoje se mostram timidamente, quase envergonhadas. Reconhecemos os esforços que estes ativistas e trabalhadores levaram a cabo durante décadas, mas é preciso dizer que, embora suas esperanças sejam legítimas, não existem mais motivos para depositar qualquer expectativa no Partido dos Trabalhadores. É necessário dizer que o PT morreu desde que renegou as suas origens, desde que abandonou a via da rua e das mobilizações sociais pela via institucional nos limites de um regime democrático burguês. E a institucionalização é um caminho sem volta. Não existe um só contra-exemplo na história que aponte em sentido diverso. Uma vez que uma organização dos trabalhadores se encontre emaranhada com os interesses espúrios do inimigo não existe um outro caminho que não seja o de aprofundar os laços de traição e utilizar a influência sobre os trabalhadores contra os interesses dos próprios trabalhadores. É este o papel nefasto que o PT cumpre hoje no país. Utilizar toda influência que conquistou sobre amplas camadas da sociedade, sua influência sindical, sua influência sobre os movimentos sociais para fazer valer os mesmos interesses que um dia combateu, aqueles voltados para a acumulação de capital. Nestas condições, permanecer neste partido , mesmo combatendo suas políticas, é alimentar dia a dia este enorme aparato que hoje funciona como empecilho contra qualquer transformação social mais profunda no país. Junho de 2013 deu o seu recado. Uma futura revolução brasileira não será realizada com o PT, mas, ao contrário, passando por cima de seu cadáver.

O argumento de que as administrações petistas fazem o que é possível em nossa conjuntura atual é um grande engodo. Esta justificativa pressupõe a completa falta de confiança na unidade e luta dos trabalhadores e trabalhadoras que produzem toda riqueza do país. Pressupõe que estes não são capazes de darem cabo no seu próprio destino, mas dependem da astúcia dos negociadores petistas. Significa renegar toda esta força contida em troca de migalhas oriundas da conciliação e submissão às normas do regime democrático burguês.

Neste sentido, o PT, apesar de ainda nutrir expectativas de amplos setores da sociedade, infelizmente, não poderá correspondê-las. Pois já escolheu o seu lado. Estão ao lado das escolas privadas e cursinhos contra a educação pública. Ao lado dos planos de saúde contra o SUS. Ao lado dos proprietários do transporte público contra seus usuários. Ao lado dos grandes capitalistas que os financiam contra os trabalhadores. PT e PSDB estão, assim, do mesmo lado. De que lado você está?

0 comentários:

Postar um comentário